"Tenho saudades da minha avó"

Iniciamos a nossa aula com a rodinha do consultório-do-coração.

"Como me sinto hoje?"

Entre alegrias, alguns medos brincalhões, houve uma tristeza que sobressaiu e que precisou de ser acolhida... e quando é assim chamamos o clube de amigos.

Entre lágrimas, a L. de 9 anos disse "não consigo falar".

E quando um amigo está triste e não consegue falar, perguntamos se aceita um abraço nosso e foi o que fizemos. Demos um abraço que ajuda a serenar o coração.

No momento a seguir foi pedido que passassem para o desenho o que estavam a sentir acerca daquele sentimento.

E é quando a L. escreve "tenho saudades da minha falecida avó!" . Muitas vezes é mais fácil passarmos para o desenho o que estamos a sentir do que verbalizar.

Após falar entre soluços do seu desenho disse-lhe que no final da aula falaríamos as duas sozinhas se estivesse bem para ela, pois percebi que era um assunto muito sensível para ser falado em grupo naquele momento.

E assim foi...

(Já no final da aula)

Como devem calcular, passam milhentas das teorias do que se deve dizer nestas situações (não sou exceção)....

Mas de repente senti o apelo de apenas...

... em silêncio, dar-lhe um abraço longo e apertado que acolhe lágrimas e conforta.

Dizendo em silêncio baixinho "sim, podes chorar... sim, podes sentir saudades...sim, tudo isso é teu de direito..."

Muitas vezes querer salvar as crianças daquele sentimento não é o mais saudável, pois estamos a tirar-lhe oportunidade da mesma saber gerir aquela emoção. É importante saber que ela existe, senti-la para depois ter a ajuda para a deixar seguir.

Por isso, nos momentos em que nos apetece salvar, "respirar fundo", "abraçar de forma presente" é o melhor curativo.

Saudades todos nós sentimos um dia...

Nota: Aconselho os livros "Perto", de Susana Amorim, "A Estrela que não morava no Céu...", de Cristele Matias e "O coração e a garrafa", de Oliver Jeffers para abordar com as crianças a questão das saudades e da morte.

In Céu d'afetos, 2017